Wednesday, March 29, 2006

O que me faz menos...

Esse mundo é um balanço entre coisas que nos fazem menos e coisas que nos fazem mais humanos. Estava tentando medir, pesar na balança da memória como deve andar o saldo, o resultado dessa matemática da humanidade. Infelizmente, no meu conceito, o resultado não têm nos favorecido.

O quanto somos responsáveis por esse resultado? Talvez um pouco, talvez bem pouco, na medida em que somos meros assistentes - e talvez aí esteja a nossa maior culpa, a culpa da omissão, de não sermos ativistas, de não protestarmos o suficiente ante aqueles que decidem os destinos da humanidade.

Muito terrorismo, de direita, de centro, de esquerda, não importa de que facção venha, a verdade é que o terrorismo é uma praga que assola a humanidade, vitimiza o inocente, ceifa vidas, espalha o terror. Muita fome, em regimes capitalistas, em regimes socialistas, em regimes comunistas, na verdade o espectro da fome se vale do regime do egoísmo, um regime que está acima das formas de organização do estado.

O que esperar do futuro? O que esperar de nós? Não sei, o futuro é uma incógnita...

Thursday, March 23, 2006

De bom coração

Dizem que nós, os brasileiros, somos dotados de um bom coração. Não estou falando, é claro!, da qualidade do nosso músculo cardíaco, estou falando dessa nossa propalada bondade, desse coração mole, que nos faz um povo pouco propenso à violência - apesar de toda a violência que vê hoje em dia nas nossas cidades -, às lutas, às revoluções. Somos pacíficos, dóceis, um povo com o espírito de carneiros.

Não sou um estudioso da matéria, talvez estejam nas nossas raízes históricas, na formação étnica, na escravidão, nos séculos de colonialismo as raízes que forjaram esse nosso modo de ser. Traçando um paralelo com o meu estado, eu sou nativo do Rio Grande do Sul, somos levemente diferentes do resto do Brasil. Esse pouco de influência castelhana, da influência platina, nos tornou menos dóceis, talvez tenhamos o coração mais empedernido do que a média do brasileiro.

Nessa diferença pode estar a razão de tantas revoluções aqui nesses pampas, de tanto sangue derramado, de tantas inconformidades, ou desse sentimento de independência que nos traz problemas ocasionalmente.

Com todo esse bom coração que nos distingue, ainda assim, infelizmente, não dá para acreditar que o nosso querido presidente tenha sido um "ausente" de todo esse processo de corrupção que se desenrolou a sua volta, no seu governo. Acresce, ainda, mais um fator, mesmo que aceitemos essa improvável alegação da alienação de tudo, ele, como dirigente máximo da nação, não pode simplesmente dizer que "não sabia" e, pronto!, está tudo resolvido.

Desde pequeno aprendemos que o dirigente é o responsável pelos atos dos seus subordinados. E não estou falando de funcionários do quinto escalão, estou falando de ministros, estou falando de próceres do seu partido. Se não o fez por ação, o fez por omissão, mas é inegável que pecou sendo o maior responsável por isso.

Wednesday, March 01, 2006

Se acabando

Ela começou o processo no final do outro carnaval, quando todo mundo pensa que tudo estava acabado em cinzas. Tal qual um fênix mitológico ela renasceu, era preciso começar a pensar no próximo, só ganha quem chega antes, quem antecipa. "Essa coisa de vida comum é pros outros, não pra quem tem essa responsa", costumava responder quando perguntada porque tanto amor, tanto empenho com a sua escola. Interessante, para quem fazia tudo por amor à escola, ela não falava em amor, falava em responsabilidade, palavra de quem geralmente faz profissionalmente as coisas. Talvez houvesse uma explicação para isso, o seu amor era tanto, que ela preferia encarar como uma obrigação, uma responsabilidade.

Era a sua segunda profissão, a não remunerada, a primeira, a profissão remunerada, ajudava a manter os seus gastos pessoais e os gastos com esta não remunerada, que não gerava renda, é claro, e ainda gerava gastos. Trabalhava catando latas de alumínio em bares das redondezas, juntava, amassava, ensacava, e vendia para as empresas de reciclagem de alumínio. Não era uma grande renda, mas não precisava de muito, vivia com pouco, quase nada. Nem tudo o que ela consumia era comprado, nas suas andanças catando as latas ganhava algum alimento, precisava de muito pouco.

Terminava o seu "expediente", catando as latas com os seus fornecedores e ia para o seu barraco de peça só, largava o saco das latas num canto e rumava direto para o outro "batente" no barracão da sua escola do coração. Sem horário prá começar e, muito menos, pra largar o trabalho, era um faz tudo, bastava indicar o trabalho e pronto! Lá ia ela com total dedicação desempenhar a tarefa designada. E assim era durante todos os dias, durante os trezentos e sessenta e cinco dias do ano. Não, não é verdade! Não ocupava o ano todo, tirava férias desse seu segundo emprego na época do carnaval.

Nessa época você vai encontrá-la lá na arquibancada, ela usa as suas economias de um ano de trabalho para comprar os ingressos, sabe como é, não dá pra perder por nada desse mundo o espetáculo de ver a sua escola desfilando.