Saturday, April 22, 2006

Talentos

A valorização dos talentos segue a regra mais democrática: a regra imposta pelo mercado. Essa afirmação não encerra nenhum juízo de valor sobre os talentos, o fato de ser democrática não quer dizer que seja a mais correta, ou que seja a mais justa. Dizer-se que a "voz do povo é a voz de Deus" e está tudo terminado encerra um paradigma em si mesmo, não nos esqueçamos que foi esse mesmo povo que optou por Barrabás e mandou Cristo para a Cruz.

Nem sempre o bom gosto, o mais correto, o melhor é a escolha da maioria. Fosse assim teríamos que concluir, no caso brasileiro, de que Mozart é pior do que todas as duplas sertanejas exisentes no país. Sem meias palavras, a conclusão lógica é essa mesmo, assim há que se dar pouco crédito para essa lei que diz que as maiorias sempre estão corretas.

O que se tem dito, quando o âmbito é político, é que a democracia é o melhor entre os piores; ou partindo da constatação de que não há um regime de governo ideal, o menos pior é a democracia. Voltando aos nossos talentos, e a sua valorização, quem atribui milhões de dólares ao andar de uma modelo peituda, e magérrima com um caminhar desengonçado é o mercado da moda. Tem os seus motivos, dizem que elas vendem.

No outro lado da moeda, um pesquisador, um nerd de óculos qualquer, mesmo com QI acima de 150, não vale nem centenas de milhares de dólares, o que se dirá milhões. Ou então, pior comparando, vale infinitesimais partes do que vale um craque da bola, seja do futebol, do basquete ou do baseball.

Mas como eu disse, são males do mercado, e quem é o mercado senão nós mesmo? Nós valorizamos as coisas assim, fizemos as nossas opções, temos as nossas preferências e, segundo elas, beleza vale mais que inteligência.

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